Friday, June 16, 2006

ANATOMIA DOS CORREDORES SULINOS E SUA IMPORTÂNCIA A MEGACONSERVAÇÃO: O CORREDOR DA SERRA GERAL

John Terborgh e Michale Soule são dois grandes defensores do grande Corredor das Rochosas na América do Norte. Razão de um corredor tão extenso? Preservar grandes áreas com ecossistemas interligados permitindo a conservação dos grandes predadores. O Lobo é o emblema desta iniciativa. Sendo um grande predador capaz de matar presas do porte de um alce, o lobo assume um papel vital no estabelecimento da harmonia na cadeia alimentar. O lobo foi extirpado de grandes extensões florestais na América do Norte pelo homem. Entre as conseqüências mais notórias desta ausência provocada por ações intespestuosas do homem contra a natureza estava a difícil regeneração das florestas boreais no parque Nacional do Yellowstone. Poderíamos perguntar: o que o lobo tem a ver com a conservação das arvores no notório parque americano? Acontece que com a ausência do lobo e suas matilhas a patrulhar a floresta, suas presas começaram a se multiplicar de tal forma que ao longo de um curto período, o ecossistema florestal começou a dar mostras desta ação. Que ação? Veados e cervos estão entre as principais presas dos lobos. Na ausência do predador, as populações dos cervos e veados cresceram tanto que seu impacto na cobertura vegetal foi nefasto a regeneração florestal.

Com a reintrodução do lobo no Parque Nacional do Yellowstone a situação começou a reverter rapidamente e a harmonia na cadeia alimentar voltou a se manifestar. Hoje lobos perambulam livremente na area do parque e vizinhanças. Mais lobos foram colocados em outras unidades de conservação norteamericanas. Sendo grandes predadores, necessitam de grandes áreas para suas matilhas, assim como medidas apropriadas para sua conservação. Entre estas esta o Grande Corredor das Rochosas proposto por John Terborgh e Michael Soule.

O Sul brasileiro conta com um corredor natural ao longo das serras que margeiam o Oceano Atlântico. Em nossos ensaios anteriores temos batido sempre na mesma tecla da importância dos corredores naturais que contamos na Depressão Central, Serra Geral e Serra do Mar.

Por que chamo de corredores naturais? As florestas que situadas nas encostas das nossas serras estão categorizadas como APPs – Áreas de Preservação Permamente. Ou seja são áreas protegidas pela legislação federal. A denominação de corredores aplicada à estas encostas adicionaria valor as mesmas. Valor paisagístico e turístico, alem do que a nova legislação florestal permite algumas atividades extrativistas em alguns setores. Dai que “O Corredor da Serra Geral” acrescenta uma característica de valoração a região toda.

No caso do Corredor da Serra Geral, este atravessa uma região ocupada por pequenos proprietários que vivem da agroecologia e do turismo rural. A região atravessada pelo Corredor da Serra Geral encontra-se sob uma pressão intensa em alguns setores como no município de Grão Para que vem rapidamente substituindo sua floresta atlantica por reflorestamentos com pinus. Durante o processo a floresta atlantica e literalmente convertida em carvão.
O Corredor da Serra Geral conecta setores de grande importancia à conservação regional

O Corredor da Serra Geral corre perigo também pelo possível licenciamento da jazida de fosfato em Anitapolis. A operação desta jazida causara um grande dano a cobertura florestal da região comprometendo consideravelmente este corredor.

Por que importante a megaconservação? A Serra Geral e a coluna vertebral dos ambientes ainda bem conservados da Floresta Atlantica Sulina. Esta região abarca um numero muito grande de espécies. A rara Canela Preta (Ocotea catharinensis) ainda é encontrada em vários setores das encostas da Serra Geral e serras próximas como a Serra do Tabuleiro. A Canela Preta é uma das arvores presentes em florestas mais antigas e com características de matas primárias. Araucárias de grande porte ainda existem em alguns bolsões na Serra da Anta Gorda em Urubici.

O Gavião Real foi registrado nos últimos 15 anos na região e sugere que ainda conta com alguns casais vivendo nas encostas íngremes destas serras. O Gavião real Falso vive na conturbada região de Grão Para onde seu habitat está sendo carbonizado. Um numero significativo de espécies de mamíferos, anfíbios e aves vivem no Corredor da Serra Geral.

Mantendo o Corredor da Serra Geral teremos assegurada a conservação de um numero muito grande de espécies animais e vegetais.

Jornais ambientais online, como o Eco, noticiaram recentemente a parceria entre a gigante do processamento do soja Bunge e a ONG Conservation International no estabelecimento de corredores ecológicos ao norte de Tocantins e Piauí. Os ambientes sulinos conservados pelo Corredor da Serra Geral agradeceriam imensamente o engajamento da Bunge nesta campanha Pro-corredores movida pela Associação Montanha Viva. A troca do projeto pelo licenciamento e operação da jazida do fosfato em Anitapolis por outro socioambiental no Corredor da Serra geral melhoraria consideravelmente a imagem da BUNGE internacionalmente.

Sunday, June 04, 2006

CORREDORES EXISTENTES E A NECESSIDADE DA RESTAURAÇÃO DE CORREDORES

O sul do Brasil é habitado por uma das mas diversificadas comunidades de aves de rapina, chegando a mais de 35 espécies em algumas localidades. Nas nascentes do Rio Canoas na região serrana de Urubici, registramos 31 espécies de aves de rapina. Entre estas salientamos a presença de todos os representantes da suíte dos Gaviões de Penacho, onde temos os representantes do Gênero Spizaetus (melanoleucus incluído), Harpyhaliaetus, Morphnus e Harpya.

O Gavião real (Harpya harpyja) conta com registros históricos dos anos 60 e mais recentes nos anos 80. Os demais tem sido registrados consistentemente desde 2003 no Alto Rio Canoas, Serra do Tabuleiro e Rio Pelotas na area da Barragem Barra Grande. Apenas o Gavião real falso tem seus registros restritos às franjas da Serra Geral.

Em uma analise preliminar simplista, podemos dizer que a riqueza de espécies de aves de rapina nesta região e associada as áreas florestais continuas nas encostas da Serra Geral. Ė justamente a continuidade desta cobertura florestal que assume a maior importância em termos de prioridades de conservação. Uma comunidade rica em espécies como as aves de rapina serranas do sul do Brasil esta associada a uma disponibilidade de presas e sítios de nidificação. Estes recursos estão aparentemente disponíveis nas florestas da Serra Geral.

A conservação desta região vem sendo negligenciada pelas agências ambientais estaduais, federais e também pelas ONGs que financiam projetos para a implementação de ações visando a manutenção destes refúgios.

Grandes corpos florestais no sul do Brasil e os isolados entre eles

Olhando a imagem acima podemos ver claramente que a costa atlântica sul brasileira está isolada da região florestal de MIssiones na Argentina e esta isolada das florestas de galeria ao sul do Pantanal, enfim temos grandes áreas florestais sendo paulatinamente erodidas e deterioradas pelo crescimento desgovernado da agricultura, principalmente o cultivo do soja.

Na mesma imagem podemos ver claramente alguns isolados entre os dois corredores. Mais ao sul, ao longo do Rio Uruguai, vemos claramente que a agricultura destruiu as matas de galeria que constituíam o Corredor do Rio Uruguai. Inúmeras usinas hidrelétricas estão em construção e processo de licenciamento ambiental no Rio Uruguai. Entre as medidas compensatórias, o governo estadual e federal, deveria exigir destes empreendimentos a restauração das florestas ao longo do Rio Uruguai e, assim restabelecendo a conexção entre o Corredor da Serra Geral e Missiones. Igualmente o mesmo deveria acontecer nos demais isolados no centro do Paraná e São Paulo.

O "Refugio Florestal de Missiones" isolado e o Rio Uruguai sem suas matas de galeria ilustrando claramente o não cumprimento da lei

Os órgãos de fiscalização deveriam ser mais rígidos e atuantes nas regiões de agricultura industrial e exigir destas empresas o cumprimento da lei federal que exige a manutenção de matas ciliares e de galeria ao longo dos rios.